Foram dois dias sondando o Sr. Salvador Falabella até que ele tivesse um intervalo para conversar sobre seu bairro. Sua indisponibilidade é a regra dos comerciantes do Mercadão da Lapa. O dia é corrido. A todo momento chegam novos clientes. Na primeira tentativa, foram 4 "nãos", fora aqueles da clientela. Por incrível que pareça, a sensação é de que lapianos (adjetivo comum no Mercadão para se referir aos moradores da região) não consomem no Mercado. Salvador confirma esta sensação. De acordo com ele, a maioria dos consumidores são "moradores dos bairros".

O senhor, de 88 anos, 40 deles na Lapa, se refere assim àqueles que não moram na Lapa, como se seu bairro fosse o mais importante. A pose é de um barão e, na fala, carrega consigo uma capacidade de síntese de dar inveja a qualquer jornalista. Salvador conta toda sua história em poucas palavras, sem entrar em detalhes. É um olho no gravador e outro no movimento da banca. Um dos poucos momentos que se empolga é quando fala de sua clientela. Proprietário de uma banca-tabacaria do local, Salvador conta que o clientela do mercado é diferenciada. "Ao contrário cliente do mercado, que ele mesmo tem pegar o produto, escolher carregar e ir embora, o cliente aqui do mercado gosta de conversar mais e saber sobre a mercadoria que está levando", explica com um sorriso no rosto.

Salvador é natural de Bragança Paulista e chegou na Lapa já com a vida feita. A banca em que trabalha atualmente pertencia ao seu pai e ele apenas tocou o negócio , fixando-se na região. Sua vida pode ser dividida em duas fases, uma pré-Lapa, e outra pós Lapa, quando se fixara no bairro. Isso porque Salvador já tinha vivido bastante quando chegou no Mercadão, com direito a casamento e tudo. Na Lapa foi onde tudo recomeçou: emprego, amizades, casamento...



Sobre morar na Lapa, Salvador não vê motivos para reclamar. "Onde eu moro é um lugar bem tranquilo. Até hoje nunca vi assalto", conta embora não seja o que aparenta para os consumidores da região. Uma senhora, ao ser abordada para um conversa no Mercadão, já se escondia, acuada, na banca da qual acabara de sair.

Para não dizer que não reclamou de nada, Salvador confessou sentir falta dos tempos áureos do Mercadão, quando o movimento era muito mais intenso. De 15 anos para cá, ele viu sua clientela cair drasticamente. Naquela época, o Mercadão da Lapa era o único abastecedor da região, mas com a chegada de grandes redes de supermercado na região, o movimento caiu muito e o jeito foi adaptar-se à nova demanda. O que ele e seus colegas fazem hoje é procurar preços mais atraentes junto aos fornecedores.



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